terça-feira, 15 de janeiro de 2013

PALAVRA DO BISPO DIOCESANO: Construir a Paz




Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena

Bispo Diocesano de Guarabira

Secretário daCNBB - Regional Nordeste 2



Feliz Ano Novo! Ouve-se essa saudação indistintivamente. E, muitas e muitas vezes, esta é uma expressão vazia. Como diz: entra-se “na onda”. Contudo, é um tempo de expectativa de um mundo melhor, de uma vida feliz, de uma esperança renovada e de construir a paz, que deve brotar da sinceridade do nosso coração. É preciso construir a paz em meio às alegrias, esperanças, tristezas, angústias, dificuldades e nas crises que marcam nossa existência terrena. A atual realidade requer um renovado empenho na busca do bem comum e na construção da paz. Quem tem fé coloca na mão de Deus o ano novo, fazendo sua parte, entendendo no dia a dia os caminhos de Deus e caminhando por eles. O certo é que Deus não deixa de fazer sua parte. E todos devem fazer também a sua parte. No ano novo, no dia primeiro do ano e no oitavo dia de Natal, celebramos a solenidade de Maria, Mãe de Deus, e, nela, o mistério da salvação em Cristo Jesus. Ao chamá-la “Mãe de Deus”, estamos reconhecendo que o Menino, nascido humildemente em Belém, é Deus que se fez carne e veio habitar entre nós. O pensamento central de toda a solenidade é a grande bênção concedida à humanidade. Em Cristo Jesus toda a terra foi abençoada. O fruto da presença de Jesus Cristo em todo o tempo é a paz. A paz de Cristo. Deixar que Jesus Cristo seja realmente o Senhor sobre a nossa vida. Daí a ligação da Solenidade da Oitava do Natal e da Mãe de Deus com o Dia Mundial da Paz. E nesse Novo Ano, nesse dia 1º de janeiro, o Papa Bento 16 enviou uma mensagem, para a comemoração do 46º Dia mundial da Paz, com o tema: “Bem-aventurados os construtores de paz”. Todos os povos devem se sentir responsáveis pela construção da paz. Ela é dom de Deus e obra do homem. Envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenho da pessoa inteira. A paz é possível. O construtor da paz é aquele que procura o bem do outro. Assim, cada pessoa e cada comunidade é chamada a trabalhar pela paz. Os construtores da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua plenitude. É tarefa da família e de todas as instituições educar para uma cultura de paz. O mundo atual precisa formar essa cultura de paz. A paz de Cristo, a paz que vem de Cristo Jesus. O primeiro dia do novo ano nos faz celebrar tudo isso. Que a saudação Feliz Ano Novo desperte em nós o propósito de construir a verdadeira paz e a felicidade de todos. Feliz e abençoado 2013

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Maria do Advento


Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo Diocesano de Guarabira
Secretário da CNBB - Regional Nordeste 2



É significativa a ligação da Virgem Maria com o tempo litúrgico do advento. A palavra “advento” significa “está para vir”. Assim, o tempo do Advento é a vivência do mistério da espera em preparação da vinda de Cristo. Este tempo tem, sem dúvida alguma, um sabor mariano. Com a Virgem Maria aprendemos a esperar o Sol que nasce da Aurora, o Cristo, nosso Deus! Então, neste tempo de espera, é muito conveniente celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a Virgem. Muitas comunidades já celebram. E, ao celebrar esta solenidade, a Igreja nos convida a refletir sobre nossa origem e nosso destino. Exemplar único da humanidade perfeita e isenta de pecado, Maria nos recorda o que seríamos, se não fosse nossa rebeldia para com Deus. Pois, a Virgem Maria, desde o primeiro momento em que foi concebida no seio de sua mãe, foi preservada por Deus da solidariedade com o pecado. Nós já nascemos marcados de morte; ela, desta marca de pecado, foi preservada; nós precisamos ser arrancados da lama do pecado, graças à cruz do Cristo; ela, pela cruz do Cristo, foi liberta desde a origem e sequer foi tocada pelo pecado; nós fomos redimidos do pecado, ela foi ainda mais perfeitamente redimida porque, pelos méritos da Paixão do Senhor, sequer experimentou esta situação de pecado. Desde o ventre materno, desde o primeiro instante de sua concepção, o Senhor a libertou, graças aos méritos de Cristo. Ela, a Virgem, pode ser chamada Toda Santa, isto é, Toda Santificada. A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê, fundamentada na Escritura Sagrada. Não é a Palavra de Deus que afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a Serpente e a Mulher, entre a descendência de Serpente e a da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho nascido de Mulher? A Virgem não é imaculada por seus próprios méritos, mas pelos méritos daquele que, nascido de suas entranhas benditas, venceu a antiga Serpente e destruiu o antigo Inimigo. Mais que ninguém, a Virgem é devedora a Cristo: Ele a escolheu, Ele a preservou, Ele a sustentou, Ele teve por ela uma predileção inigualável. Em Cristo, o pecado pode ser vencido! A Conceição Imaculada de Maria é sinal belíssimo desta vitória! Alegremo-nos, porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora é o feliz princípio e a primeira aurora da salvação que o Senhor Jesus nos traz! É muito importante, neste advento, celebrar a Conceição Imaculada da Virgem Maria. Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.

DEUS PROÍBE A CONFECÇÃO DE IMAGENS?

  • “Farás também dois querubins de ouro;
  • de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.” (Ex 25,18)

Muitas vezes andando nas ruas encontramos pessoas vestidas com ternos e com uma Bíblia na mão, ensinando que usar imagens em igrejas é idolatria.
Por este motivo costumam chamar os católicos de idólatras, isto é, adoradores de ídolos, que quer dizer adoradores de falsos deuses. E ainda acusam a Igreja Católica de ensinar a adoração destas imagens.
Os protestantes encaram o uso das imagens sacras como um insulto ao mandamento divino que consta em Ex 20,4 que proíbe a confecção delas.
A Igreja Católica sempre defendeu o uso das imagens. Estaria a Igreja Católica desobedecendo a ordem divina em Ex 20,4?
A Igreja Católica é a única Igreja que tem ligação direta com os apóstolos de Cristo, sendo ela a guardiã da doutrina ensinada por eles e por Cristo, sem lhe inculcar qualquer mudança. Se ela quisesse mesmo agir contra a ordem divina, teria adulterado a Bíblia nas passagens em que há a condenação das imagens.
Na Bíblia católica - pois a Bíblia protestante não contém sete livros relativos ao Velho Testamento- o Livro da Sabedoria condena como nenhum outro a idolatria (Sb 13-15). Não poderia a Igreja repudiar o livro como fizeram os protestantes?
Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo:
Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.
Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia?
Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar, ou ser um ídolo que vai roubar a adoração devida a somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção. Vejamos os textos abaixo:
“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo da terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira geração daqueles que me aborrecem.” (Ex 20,4-5)
Note que nesta passagem a função da imagem é roubar a adoração devida somente a Deus. O texto bíblico condena a confecção da imagem porque ela está roubando o culto de adoração ao Senhor. A existência deste mandamento se deve pelo fato do povo judeu ser inclinado à idolatria, por ter vivido no Egito que era uma nação idólatra e por estar cercado de nações pagãs, que não adoravam a Deus, e que construíam seus próprios deuses. Deus quer dizer aqui “não construam deuses para vocês, pois Eu Sou o Deus Único e Verdadeiro”.
“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte, e outro querubim na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele.” (Ex 25,18-19)
Neste versículo, Deus ordena a Moisés que construa duas imagens de querubins que serão colocadas em cima da arca-da-aliança, onde estavam as tábuas da lei, dos dez mandamentos. Veja que os querubins aqui não são objetos de adoração, mas de ornamentação da arca. Salomão também manda construir dois querubins de madeira, que serão colocados no altar para enfeitar o templo (1Rs 6,23-29).
Para deixar mais claro ainda a proibição e a permissão do uso das imagens sacras, vejamos os próximos versículos:
“E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo.” (Nm 21,8-9)
“Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã.” (2Rs 18,4)
Note que no primeiro texto de Nm 21,8-9, Deus não só permitiu o uso da imagem, como também a utiliza para o seu serviço; e a transforma em objeto de benção para seu povo, sinal de Seu amor por Israel.
E no segundo texto de 2Rs 18,4 a mesma serpente de metal que outrora foi construída por Moisés, é repudiada por Deus. Tornou-se objeto de adoração pois “os filhos de Israel lhe queimavam insenso”. Deram a ela o culto devido somente a Deus. A Serpente de metal perdeu como nos mostra o texto, o seu sentido original, porque os filhos de Israel “não obedeceram à voz do Senhor, seu Deus; antes, transpassaram seu concerto; e tudo quanto Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado, nem o ouviram nem o fizeram.”(2Rs 18,12)
Aí fica mais que claro que Deus não condena o uso das imagens sacras e sim a idolatria. É importante lembrarmos que há muitas outras formas de idolatria, como o amor ao dinheiro, aos bens matérias, etc; que substituem o amor que devemos ter somente por Deus.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Bento XVI sobre Dom Eugênio: "Intrépido pastor, a serviço dos mais desfavorecidos"


O Papa Bento XVI expressou pesar pela morte do Cardeal Eugênio de Araújo Sales, que faleceu na noite de segunda-feira, 9, no Rio de Janeiro.

Leia a íntegra do telegrama enviado ao Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta:

Exmo Revmo Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro
Recebida a triste notícia do falecimento do venerado Cardeal Eugênio de Araújo Sales, depois de uma longa vida de dedicação à Igreja no Brasil, venho exprimir meus pêsames a si e aos bispos auxiliares, ao clero e comunidades religiosas, e aos fiéis da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, que por três décadas teve nele um intrépido pastor, revelando-se autêntica testemunha do evangelho no meio do seu povo. Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor que, nos seus quase setenta anos de sacerdócio e cinquenta e oito de episcopado, procurou apontar a todos a senda da verdade na caridade e do serviço à comunidade, em permanente atenção pelos mais desfavorecidos, na fidelidade ao seu lema episcopal: “impendam et superimpendar” (gastarei e gastar-me-ei por inteiro por vós). Enquanto elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, envio a essa comunidade arquidiocesana, que lamenta perda dessa admirada figura, à Igreja no Brasil, que nele sempre teve um seguro ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica, e a quantos tomam parte nos sufrágios animados pela esperança da ressurreição, uma confortadora bênção apostólica.

Benedictus PP. XVI

terça-feira, 10 de julho de 2012


Os mortos estão dormindo?

E o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus que o deu” (Ecl 12,7).

Introdução

Nos tempos da Idade Média, um pequeno grupo ensinava uma doutrina que ficou conhecida como Psicopaniquia, isto é, sono da alma após a morte. Nos tempos da Reforma Protestante, os Anabatistas retomaram esta doutrina. Com o fim dos Anabatistas, a Psicopaniquia, retornou aos círculos cristãos com o surgimento dos Adventistas do Sétimo Dia. Esta doutrina nega que o homem seja formado por alma espiritual e corpo material, reduzindo o homem a um corpo que é animado ou mantido somente por funções orgânicas. Veremos se tal postulado encontra amparo nas Sagradas Escrituras e na Tradição dos Apóstolos.

A realidade dualística do homem

No livro do Gênesis encontramos a história da criação do mundo e dos seres viventes. Diz o Gênesis que "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente" (Gn 2,7) (grifos meus).

Neste versículo encontramos a primeira prova da natureza dualística do homem: a carne formada ?do barro da terra? e seu espírito que é "um sopro de vida". Somente depois de dadas as duas coisas, diz o Gênesis que "o homem se tornou um ser vivente".

Com efeito, sopro em hebraico é "nashamah". É a mesma palavra usada no Deuteronômio onde lemos: "Quanto às cidades daqueles povos cuja possessão te dá o Senhor, teu Deus, não deixarás nelas alma viva [nashamah]" (Dt 20,16). Ver também 1 Reis 15,29.

Muitos são os exemplos na Escritura onde "nashmah" denota claramente o espírito que Deus deu ao homem, infiltrado no corpo humano através das suas narinas (cf. Gn 2,7) no momento da criação.

A inteligência da alma

Não é por acaso que a Psicologia estuda as faculdades intelectuais humanas. A palavra que no português conhecemos por "alma" não existe no hebraico. "Alma" vem do grego "psychein" que significa "soprar". Deste verbo grego vem a palavra "psique" que significa "sopro", que é raiz da palavra "psicologia".

A etimologia da palavra "psicologia" nos remete à inteligência presente no espírito humano ("sopro"), pela qual recebemos nossas faculdades intelectuais.

Com efeito, a própria Revelação de Deus mostra que é pelo seu espírito que o homem possui inteligência, conforme vimos em Prov 20,27. A mesma verdade encontramos em Jó: "mas é o Espírito de Deus no homem, e um sopro [nashmah] do Todo-poderoso que torna inteligente" (Job 32,8).

Embora as faculdades do corpo como tato, olfato, audição e visão sejam responsáveis pela nossa interação com o mundo, é pelo espírito que temos inteligência; é dele que vem a nossa razão.

Por isso, sobre o espírito humano escreveu Salomão: "O espírito [nashamah] do homem é uma lâmpada do Senhor: ela penetra os mais íntimos recantos das entranhas" (Prov 20,27).

Concordando com Salomão, São Paulo ao escrever aos Romanos faz a relação entre espírito e razão: "Assim, pois, de um lado, pelo meu espírito, sou submisso à lei de Deus; de outro lado, por minha carne, sou escravo da lei do pecado" (Rm 7,26) (grifos meus).

As referências acima provam que o espírito humano é dotado de faculdades intelectuais.

A consciência dos mortos

Os psicopaniquianos negam a existência da alma. Para eles, homem é como um animal, sem alma, diferindo deste por possuir um cérebro mais evoluído (responsável pelas faculdades intelectuais) e também porque irá ressuscitar no dia do Juízo Final. Como vimos, tal tese é fortemente discordante dos ensinamentos bíblicos sobre o espírito humano.

Há aqueles que acreditam na existência da dualidade humana (espírito e corpo material), mas que ensinam que após a morte, a alma humana está sem consciência, pelo fato de lhe faltar o corpo que lhe comunicam os sentidos.

Primeiramente, como já dissemos, os sentidos comunicam o mundo material com o espírito humano. As faculdades intelectuais da alma independem do corpo. É por esta razão, que a Igreja Católica se opõe à morte dos anacéfalos (crianças que nascem sem cérebro), pois o homem não pode ser reduzido ao corpo, embora sem ele não esteja completo.

Os defensores do sono da alma apresentam os seguintes textos para defender sua tese:

"Enquanto [Jesus] ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: Tua filha morreu. Para que ainda incomodas o Mestre? Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-se ao chefe da sinagoga: Não temas; crê somente. E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações. Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo" (Mc 5,35-39) (grifos meus).

Ver também Mt 9,23-25 e Jo 11,11-14.

Ora, todos hão de concordar que a Sagrada Escritura é coesa em seu ensinamento doutrinal, embora sua letra muitas vezes se apresente contraditória aos olhos humanos. Porém essa contradição é aparente, normalmente quando o texto é lido fora de seu contexto.

È o próprio Cristo que numa parábola ensina que as almas dos falecidos não estão dormindo:

"Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E estando ele [o rico] nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: - Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas. Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. O rico disse: - Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos. Abraão respondeu: - Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos! O rico replicou: - Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão. Abraão respondeu-lhe: - Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos " (Lc 16,20-31) (grifos meus).

Conforme o ensinamento do Senhor, aqueles que morrem na amizade de Deus são levados "pelos anjos ao seio de Abraão", isto é, para o lugar dos justos. Enquanto os que morreram na inimizade de Deus estão "nos tormentos do inferno".

O diálogo que há entre Abraão, Lázaro e o rico, mostra a consciência das almas após a morte, caso contrário não estariam dialogando.

Devemos nos lembrar que Jesus após a morte foi pregar o Evangelho às pessoas que morreram no tempo de Noé:

"Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes, quando Deus aguardava com paciência, enquanto se edificava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, apenas oito se salvaram através da água" (1Pe 3,18-20).

Ora, se a alma não existe ou está dormindo não faria o menor sentido Jesus ir pregar para elas, já que segundo nossos contendores, o homem após a morte só pode esperar a ressurreição. Temos provas da consciência dos mortos também em Ap 6,9-11 e Ap 20,4.

Infortúnio dos ímpios ou sono da alma?

Os adeptos do sono da alma ou da inconsciência dos mortos fundamentam sua tese principalmente nos versículos do Eclesiástico: "Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida" (Ecl 9,5), ou ainda "Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria" (Ecl 9,10). Para eles estes versículos são prova da inconsciência dos mortos.

Primeiramente, o livro do Eclesiastes trata da reflexão sobre a instabilidade da vida humana e a dúvida sobre o destino tanto dos justos quanto dos ímpios. Com efeito, o assunto tratado neste livro só encontra seu termo no livro da Sabedoria de Salomão, e sem este, o Eclesiastes está incompleto. Assim como a Revelação do Pentateuco encontra seu termo nos livros do tempo dos Juízes (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel), o Livro da Sabedoria vem completar o que o Eclesiastes introduziu, mas que deixou em aberto.

O Livro da Sabedoria não se encontra nas Bíblias protestantes, isto limita a exposição da Verdade, já que escrevemos não só para católicos e ortodoxos (que aceitam como sagrado este livro), mas para todos os cristãos. Porém, isso não impede nosso trabalho. Pois, assim como os vegetarianos privam seu corpo de certas proteínas por causa de sua abstenção voluntária de carne, mas ainda sim podem ser nutridos por causa das vitaminas presentes nos vegetais; da mesma forma, ainda é possível expormos a Verdade através dos livros consensualmente aceitos. Melhor seria se todos aceitassem todas as fontes de alimento dispostas pelo Senhor, seja espiritual quanto material.

Em segundo lugar, a região dos mortos tratada no livro do Eclesiastes não é o lugar para onde se destinam todos os mortos, mas somente os ímpios. Tal é o testemunho do salmista: ?Minha alma está muito perturbada; vós, porém, Senhor, até quando?... Voltai, Senhor, livrai minha alma; salvai-me, pela vossa bondade. Porque no seio da morte não há quem de vós se lembre; quem vos glorificará na habitação dos mortos?" (Sl 6,3-6) (grifos meus).

Aqui o salmista pode a salvação de Deus (?livrai minha alma, salvai-me?), pois não deseja ter o mesmo destino dos ímpios, que estão longe de Deus e por estarem longe, não podem se lembrar do Senhor e nem glorificá-lo, pois já estão perdidos.

Este mesmo ensino é confirmado em outro salmo: "Acaso vossa bondade é exaltada no sepulcro, ou vossa fidelidade na região dos mortos? Serão nas trevas manifestadas as vossas maravilhas, e vossa bondade na terra do esquecimento?" (Sl 87,12-13) (grifos meus). Como se vê, a ?região dos mortos? na Escritura trata do destino dos ímpios (cf. Sl 9,18; Sl 30,18; Sl 54,16; Sl 87,4; Pr 5,1-5).

Mas, outro é o destino dos justos, conforme nos ensina Salomão: "O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos" (Pr 15,24) ou ainda: "Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos" (Pr 23,13-14).

Ora, se o justo após a morte não vai para a "região dos mortos" ou "morada dos mortos" para onde vai? Trataremos disto mais à frente, antes é preciso expormos o que significa o "sono" dos mortos do qual se referiu Jesus (cf. Mc 5,35-39; Mt 9,23-25; Jo 11,11-14).

Bem-aventurança dos justos

Quando a Escritura diz que alguém que morreu está dormindo, ou descansando, está se referindo à bem-aventurança alcançada por ter morrido na amizade de Deus, e não porque a alma esteja dormindo.

Na linguagem semítica utilizada pela Bíblia, o prêmio daqueles que permanecem fiéis a Deus é comparado a um descanso.

Os israelitas passaram 40 anos no deserto, após o Senhor tê-los libertado do cativeiro no Egito. Devido à grande murmuração do povo, nem todos chegaram à Terra Prometida. É o que recorda o Salmista:

"Não vos torneis endurecidos como em Meribá, como no dia de Massá no deserto, onde vossos pais me provocaram e me tentaram, apesar de terem visto as minhas obras. Durante quarenta anos desgostou-me aquela geração, e eu disse: É um povo de coração desviado, que não conhece os meus desígnios. Por isso, jurei na minha cólera: Não hão de entrar no lugar do meu repouso" (Sl 94,8-11) (grifos meus).

Também ensinou Isaías: "Aquele que à direita de Moisés atuou com o seu braço glorioso, e dividiu as águas diante dos seus para assegurar-se um renome eterno; e os conduziu através dos abismos, sem tropeçarem, como o cavalo em descampado. Como ao animal que desce ao vale, o espírito do Senhor os levava ao repouso. Foi assim que conduzistes vosso povo, para afirmar vosso glorioso renome" (Is 63,12-14).

O início desta teologia se encontra em Deuteronômio: "Quando tiverdes passado o Jordão e vos tiverdes estabelecido na terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá em herança, e ele vos tiver dado repouso, livrando-vos dos inimigos que vos cercam, de sorte que vivais em segurança" (Dt 12,10) (grifos meus).

Povo chegou ao Jordão pelo comando de Josué, sucessor de Moisés. Moisés foi proibido de entrar na Terra Prometida por ter quebrado as primeiras tábuas dos Dez Mandamentos (cf. Ex 32,19; Dt 32,50-52; Dt 34,1-4).

Josué, testemunha em seu livro o cumprimento da promessa do Senhor: "E o Senhor deu-lhes repouso em todo o derredor de sua terra, como tinha jurado a seus pais; nenhum dos seus inimigos pôde resistir-lhes, pois o Senhor entregou-os todos nas suas mãos" (Js 21,44) (grifos meus).

A peregrinação que os Israelitas fizeram no deserto durante 40 anos e a posse da Terra Prometida dada aos fiéis, é figura da nossa peregrinação terrestre, na qual os que vencerem tomarão posse da Pátria do Povo de Deus, isto é, o Céu.

Este é o ensinamento que encontramos na Carta aos Hebreus:

"Se, pois, ele repete: Não entrarão no lugar do meu descanso [cf. Sl 94,11], é sinal de que outros são chamados a entrar nele. E como aqueles a quem primeiro foi anunciada a promessa não entraram por não ter tido a fé, Deus, após muitos anos, por meio de Davi, estabelece um novo dia, um hoje, ao pronunciar as palavras mencionadas: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações. Se Josué lhes houvesse dado repouso, não teria depois disso falado dum outro dia. Por isso, resta um repouso sabático para o povo de Deus. E quem entrar nesse repouso descansará das suas obras, assim como descansou Deus das suas. Assim, apressemo-nos a entrar neste descanso para não cairmos por nossa vez na mesma incredulidade. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4,5-12) (grifos meus).

O autor chama o prêmio dos justos de "repouso sabático" pois o compara com o descanso de Deus após a criação, que se deu num sábado.

A Carta aos Hebreus, além de confirmar que o sono, repouso ou descanso dos justos é a posse da bem-aventurança, também dá testemunho da realidade dualística do homem: alma e corpo.

O ensinamento desta epístola é confirmado pelo salmista: "Apenas me deito, logo adormeço em paz, porque a segurança de meu repouso vem de vós só, Senhor" (Sl 4,9).

Também ensinou o Profeta Isaías: "Porque aqui está o que disse o Senhor Deus, o Santo de Israel: É na conversão e na calma que está a vossa salvação; é no repouso e na confiança que reside a vossa força" (Is 30,15).

Por isso que Jesus ao ressuscitar a filha do centurião (Mc 5,35-39), a filha do chefe da sinagoga (Mt 9,23-25) e Lázaro (cf. Jo 11,11-14), diz que estão dormindo. Pois, morreram na amizade de Deus. Se fossem ímpios Jesus não os ressuscitaria, pois já estariam perdidos. Mas, antes mortos e agora ressuscitados, serviriam como testemunhas da Majestade de Jesus, tanto por terem visto o Céu quanto por serem ressurretos.

O destino do espírito após a morte do corpo

Veja o que ensina o Salmo: "Este é o destino dos que estultamente em si confiam, tal é o fim dos que só vivem em delícias. Como um rebanho serão postos no lugar dos mortos; a morte é seu pastor e os justos dominarão sobre eles. Depressa desaparecerão suas figuras, a região dos mortos será sua morada. Deus, porém, livrará minha alma da habitação dos mortos, tomando-me consigo" (Sl 48,14-16) (grifos meus).

Como vimos o Salmo ensina que o justo é tomado por Deus, isto é, seu destino é o Céu.

Interessante é também notar que aqueles que citam os versículos 5 e 10 do capítulo 9 do Eclesiástico, parecem que não terminaram de ler esse livro. Com efeito, no último capítulo encontramos a confirmação do ensinamento do salmo 48: "E o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus que o deu" (Ecl 12,7) (grifos meus).

Vimos no Gênesis que Deus formou Adão do pó da terra e depois lhe deu o espírito. Segundo o Eclesiastes, o corpo dos mortos (pó) volta à terra e o espírito vai para Deus.

Jesus na parábola do Lázaro e do rico (cf. Lc 16,20-31) ensina que o justo é levado à presença de Deus pelos anjos, enquanto o ímpio é jogado no inferno. Estamos falando do espírito humano, pois os dois ressuscitarão no Dia do Senhor (volta de Cristo); o primeiro para a Glória Eterna, o segundo para o Castigo Eterno.

"Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus. Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos se atiraram furiosos contra ele. Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos pés de um moço chamado Saulo. E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (At 7,55-59) (grifos meus).

Com efeito, Santo Estêvão sabia que seu espírito não estaria dormindo após sua morte, mas que seria levado a Deus.

São Paulo também ensinou que os espíritos dos justos estão na presença de Deus: "Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor. É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe" (2 Cor 5,8-9).

Como poderiam os justos esforçarem-se para agradar a Deus após a morte se estivessem dormindo? Ou ainda, como poderiam ausentar-se do corpo e "ir habitar junto do Senhor" se o espírito dos justos não voltassem para Deus que os deu (cf. Ecl 12,7)?

Testemunhos Primitivos

Agora traremos à tona a Memória Cristã, transcrevendo alguns testemunhos primitivos sobre a Fé recebida dos Apóstolos sobre a consciência dos mortos.

?Portanto, supliquemos também nós pelos que se encontram em alguma falha, a fim de que lhe sejam concedias moderação e humildade, e para que cedam, não a nós, e sim à vontade de Deus. Então, quando nos lembrarmos deles com espírito de misericórdia diante de Deus e dos santos, nossa oração produzirá frutos e será perfeita [...]? (Primeira Carta de Clemente aos Coríntios, 56. São Clemente, Papa. 90 d.C) (grifos meus).

São Clemente foi discípulo pessoal de São Paulo (cf. Fl 4,3) e o terceiro sucessor de São Pedro, no Episcopado da Igreja de Roma. Ora, se para os primeiros cristãos os justos estivessem ?dormindo?, ele não pediria aos fiéis para apresentarem suas orações diante de Deus e dos santos.

?Meus espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus [...]? (Carta ao Tralianos, 13. Santo Inácio, Bispo de Antioquia. 107 d.C) (grifos meus).

Santo Inácio foi discípulo pessoal de Pedro e Paulo. Era também chamado pelos antigos cristãos de Teósforo, que significa "Carregado por Deus", por ser a criança que Cristo pega no colo em Mc 9,36. Com efeito, se os Apóstolos Pedro e Paulo tivessem ensinado a Inácio que os mortos ?dormem?, ele não acreditaria que os justos estão diante de Deus intercedendo pelos que ainda não completaram o caminho da vida (cf. Ap 6,9-11; Ap 20,4). Mas, ele não só crê, mas ensina que quando chegar ao Céu estará ainda a serviço de Deus pelos que estão aqui na terra.

"Portanto, eu vos exorto a todos, para que obedeçais à palavra da justiça e sejais constantes em toda a perseverança, que vistes com os próprios olhos, não só nos bem-aventurados Inácio, Zózimo e Rufo, mas ainda em outros que são do vosso meio, no próprio Paulo e nos demais apóstolos. Estejam persuadidos de que nenhum desses correu em vão, mas na fé e na justiça, e que eles estão no lugar que lhes é devido junto ao Senhor, com o qual sofrefram. Eles não amaram este mundo, mas aquele que morreu por nós e que Deus ressuscitou para nós" (Segunda Carta aos Filipenses, 9. São Policarpo, Bispo de Esmirna. 160 d.C) (grifos meus).

São Policarpo, foi discípulo pessoal de São João Apóstolos e segundo a Tradição, instituído pelo próprio São João, Bispo de Esmirna (na Turquia). Assim como São Clemente e Santo Inácio, São Policarpo, outro discípulo pessoal dos apóstolos não ensinou o "sono da alma". Mas que após a morte os justos se encontram "no lugar que lhes é devido junto ao Senhor".

"O Senhor ensinou clarissimamente que as lamas não só perduram sem passar de corpo em corpo, mas conservam imutadas as características dos corpos em que foram colocadas e se lembram das ações que fizeram aqui na terra e daquelas que deixaram de fazer. É o que está escrito na história do rico e de Lázaro que repousava no seio de Abraão. Nela se diz que o rico, depois da morte, conhecia tanto Lázaro como Abraão e que cada um estava no lugar a ele destinado. O rico pedia a Lázaro, ao qual tinha recusado até as migalhas que caíam de sua mesa, que o socorresse; com a sua resposta, Abraão mostrava conhecer não somente Lázaro, mas também o rico e ordenava que aqueles que não quisessem ir para aquele lugar de tormentos escutassem Moisés e os profetas antes de esperar o anúncio de alguém ressuscitado dos mortos. Tudo isso supõe clarissimamente que as almas permanecem, sem passar de corpo em corpo, que possuem as características do ser humano, de sorte que podem ser reconhecidas e que se recordam das coisas daqui de baixo; que também Abraão possuía o dom da profecia e que cada alma recebe o lugar merecido mesmo antes do dia do juízo" (Contra as Heresias, II,34,1. Santo Ireneu, Bispo de Lião. 202 d.C.) (grifos meus).

Santo Ireneu foi discípulo de São Policarpo. Com sua ortodoxia, ele combate de uma só vez os erros da reencarnação, da inconsciência da alma e da negação do juízo particular pelo qual todos passam logo após a morte.

Há muitos outros testemunhos dos discípulos pessoais dos apóstolos, mas transcrevi aqui as palavras daqueles que os antigos consideravam os mais importantes e fiéis à Tradição dos Apóstolos.

Conclusão

A pregação dos Apóstolos é o fundamento da nossa fé, conforme ensinou São Paulo: "Conseqüentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus" (Ef 2,19-20) (grifos meus).

As Sagradas Letras são pedras que foram bem dispostas conforme a Arquitetura que Cristo confiou a seus Apóstolos, resultando no edifício da Fé. Mas o inimigo promove outro tipo de construção, convencendo muitas pessoas sinceras, pois utiliza as mesmas pedras, porém, com planta diversa daquela deixada pelos Apóstolos.

Ora, os Apóstolos constituíram bispos no mundo inteiro, deixaram seus discípulos para darem continuidade à sua obra. Com efeito, São Paulo ensinou: "Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele" (1 Cor 3,10).

Vimos que os discípulos dos Apóstolos deram continuidade à obra de seus mentores, fundamentando-se na Fé da consciência da alma e não no "sono" desta. Este é o testemunho da Sagrada Escritura e da Memória Cristã.